No post anterior, eu discorria sobre a importância da retórica e sua finalidade. Uma vez que temos uma verdade, e queremos convencer, influenciar, ensinar outras pessoas sobre ela, devemos conhecer quem são essas pessoas, devemos aprender e conhecer nossa audiência.

Mas quem define o que é certo ou errado?

Segundo o professor Stanley Fish, são as comunidades interpretativas, grupos de pessoas em quem confiamos para determinar se as coisas estão certas ou erradas, podem ser compostas se grupos oficiais, informais, credenciados ou não.

Do ponto de vista da Retórica essas comunidades, representam a sua audiência, as pessoas a quem você quer convencer de algo.

Geralmente seu discurso ou texto, fará muito sentido dentro desta comunidade e pouco fora dela.

Conheça a sua Audiência

Daí vem a importância do famoso conselho “Conheça a sua Audiência“.

Você precisará adaptar o seu discurso a sua audiência!

Não vai querer definir o que é um dente, em um seminário para dentistas por exemplo, nem falar nos detalhes mais específicos do processador de um computador em conferência de balé, é preciso ter cuidado para não falar algo que sua audiência não tem interesse ou algo que já conhecem tão bem que o fará parecer desrespeitoso.

Se deixar as pessoas confusas, o fará perder seu argumento, se deixar as pessoas desinteressadas, também perderá seu argumento. É preciso procurar o ponto mais próximo do equilíbrio.

Na grande maioria das vezes, você conhecerá sua audiência porque de alguma forma, fará parte dela, nessas situações você conhecerá bem quais os jargões, siglas e termos que você poderá usar para causar um efeito positivo na audiência, e quais deverá evitar para não causar um efeito negativo.

Por outro lado, muitas vezes, especialmente quando você está escrevendo, sua audiência não passará de ficção, ou seja, você pode até saber mais ou menos quem vai ler o que você está escrevendo, e qual o perfil dessas pessoas, mas é muito mais difícil de obter se feedback dessas pessoas, e até mesmo quando você obtém, a sua comunicação não poderá ser tão depressa como no caso de um discurso ou palestra, em que você o feedback vem das reações instantâneas das pessoas (olhos brilhantes ou cansados, cara de sono, etc.).

Alguns escritores gostam de pensar em uma pessoa específica como sua audiência, como um amigo, mãe, avó, etc., ainda que a obra seja destinada a uma grande audiência.

Hemingway escrevia de tal forma, que fazia parecer que o leitor estivera com ele sem suas aventuras, quando se referia aos lugares descrevia detalhes como “aquela casa, aquela montanha, o rio, a planície, naquele ano”, como se tanto ele e quanto o leitor, soubessem qual era o rio, qual era a montanha, etc..

“Para o fim do Verão daquele ano vivíamos numa aldeia que, para lá do rio e da planície, confrontava as montanhas. No leito do rio havia seixos e pedregulhos, secos e brancos ao sol, e a água corria suavemente pelos canais.” O Adeus as Armas, Ernest Hemingway

Para quem você está escrevendo? Para quem você está falando? Quem é sua audiência? Como se comporta essa comunidade interpretativa?

Referências

  • A Way with Words, Professor Michael Drout
  • Your Audience is Always a Fiction
  • Walter J. Ong