No último post, mencionei que a Retórica compõe as três artes liberais clássicas (trivium). Vamos explorar um pouco mais sobre esta vasta disciplina e como podemos utilizá-la em nosso dia-a-dia.
A editora Modern Scholar possui um curso chamado A Way With Words em que o professor Michael D.C. Drout do Wheaton College de Illinois (EUA), ensina escrita, retórica e a arte da persuasão. Recentemente comprei o curso em áudio e depois de estudá-lo, passei a pesquisar mais sobre o assunto, este post (e os próximos sobre o assunto), tem o objetivo de sintetizar o que venho aprendendo.
Retórica é sobre como fazer coisas com palavras. Diferente do que muitos imaginam, retórica não é algo bom ou ruim, não é uma arte apenas utilizada para manipular pessoas, mas também não é necessariamente algo necessariamente elevado. Podemos definir retórica como a arte de mudar o mundo através das palavras [1].
- Anderson, Chris (Author)
- 240 Pages - 05/03/2016 (Publication Date) - Intrínseca (Publisher)
Teoria dos Atos da Fala: Classificação dos Enunciados
A teoria da fala que teve seu início com o trabalho do filósofo inglês, John Langshaw Austin, nos mostra que a comunicação falada não é apenas informação, mas é também um tipo de ação performática[2].
Enunciados podem ser performativos ou não-performativos, para Austin, a performativos são aqueles que transformam o mundo alguma maneira, são aqueles que não podem ser tratados como verdadeiros ou falsos, mas como felizes ou infelizes, por que são parte de algum tipo de ação. Veja exemplos:
- Eu os declaro marido e mulher.
- Vá!
- Você está Preso!
- Eu te condeno a Morte.
- Eu aceito.
- Eu dedico esta música a minha esposa.
- Declaro Guerra!
- Eu me demito!
- Gallo, Carmine (Author)
- 288 Pages - 08/15/2013 (Publication Date) - Benvirá (Publisher)
Classificação dos Efeitos dos Atos da Fala
Austin divide os atos da fala em três partes:
Ato locutório
Ato de pronunciar um enunciado com mensagem que ouvinte (interlocutor) compreende [2]. Em outras palavras é o que eu digo.
Ato ilocutório
Ato que o realizado pelo locutor quando pronuncia um enunciado em determinadas condições comunicativas e com intenções (ordenar, avisar, criticar, perguntar, convidar, ameaçar, etc.) Num ato ilocutório, a intenção comunicativa de execução vem associada ao significado de determinado enunciado, e a ação do do ouvinte (interlocutor). Em outras palavras é o que eu quero que o interlocutor faça.
Ato perlocutório
Corresponde aos efeitos que um dado ato ilocutório produz no interlocutor. Verbos como convencer, persuadir ou assustar ocorrem neste tipo de atos de fala, pois informam-nos do efeito causado no interlocutor. Em outras palavras é o que o interlocutor faz.
O Caso do Rei Henrique II
O professor Michael Drout, menciona a estória do Rei Inglês Henrique II, que em uma conversa disse: “Quem vai me livrar deste padre intrometido?“, alguns soldados ouviram e mataram o tal padre.
Esta foi a força perlocutória do ato, embora a intenção do Rei, não fosse que o padre fosse de fato morto.
A princípio, era um ato não-performativo, mas acabou por se tornar um ato performativo.
Interessante, não é?
Fique ligado e acompanhe os próximos posts sobre Retórica.
Referências
1. A Way With Words, Michael D.C. Drout, Modern Scholar
2. Wikipedia – Atos da Fala
3. Wikipedia – Performative Utterance
É isto ai Faria. Não é atoa que a Biblia nos aconsolha controlar as palavras (Tiago 3).
“Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Provérbios 25:11)
“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.
A língua dos sábios adorna a sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia.” (Provérbios 15:1-2)
Bacana Ismaelão. Obrigado pelo comentário!