“Qual é sua obra?” Essa pergunta instigante é o título do livro do autor e filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella, onde diz que o trabalho deve ser visto como a realização de uma obra.
Segundo artigo publicado no Huffinton Post , 80% de trabalhadores com idade entre 20 e 30 anos querem mudar de carreira. E você? Está satisfeito?
- Cortella, Mario Sergio (Author)
- 144 Pages - 01/01/2015 (Publication Date) - Vozes Nobilis (Publisher)
“Graças a Deus é sexta feira!”
Talvez essa frase seja um indicador de que as coisas podem não estar indo tão bem. Será que o trabalho deve ser encarado como um sofrimento, onde é um alívio quando não estamos nele?
Usualmente estamos acostumados a desconectar prazer e trabalho, e a postergação da felicidade se repete de forma cíclica.
Pensando nestes ciclos, faço um convite à reflexão:
Semana: Durante a semana qual a hora mais feliz? O happy hour? A hora logo após sair do trabalho? Ou o tão esperado final de semana, onde (às vezes) não precisamos mais pensar em trabalho?
Ano: Pensando em um ano, qual o período mais esperado? Talvez as férias? Carnaval?
Vida: Colocando nossa vida na linha do tempo, quando é (ou esperamos que seja) esse momento depois de uma vida de muito trabalho e sacrifício? Talvez, a tão esperada aposentadoria.
A cada domingo à noite, final de férias, ou de recessos, o inverso parece também acontecer, predominando o sentimento de mal estar. Segundo o The Guardian, as segundas-feiras são o dia mais comum de ocorrerem suicídios (apesar de não fazer relação direta com o trabalho). O Dalai Lama escreveu sobre futuro, dinheiro e saúde:
“Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido.” Dalai Lama
Por que será que encaramos o trabalho desta forma?
Tripalium vs Poiesis
Segundo Cortella, etimologicamente a palavra “trabalho” vem do latim vulgar como sendo tripalium, que era um instrumento de tortura com foco em produzir desconforto. A origem do ocidente vem do mundo greco-romano, onde a sociedade se formou a partir do trabalho escravo, e, portanto, a própria ideia de trabalho está conectada à escravidão.
Ao longo da história esse conceito foi sendo adequado ao contexto econômico vigente. Mas se o trabalho não é um castigo, o que é – ou poderia ser?
Segundo Cortella devemos substituir a ideia de trabalho pela ideia de obra, que os gregos chamavam de poiesis, que significa minha obra, aquilo que faço, que construo, em que me vejo. A minha criação, na qual crio a mim mesmo na medida em que crio no mundo. Vejo o meu filho como minha obra, vejo um jardim como minha obra.
Reconhecimento e alienação
Segundo o autor: “tenho de ver o projeto que faço como minha obra. Do contrário acontece o que Marx chamou de alienação. Todas as vezes que eu olho o que fiz como não sendo eu ou não me pertencendo, eu me alieno. Fico alheio. Portanto, eu não tenho reconhecimento. Esse é um dos traumas mais fortes que se tem atualmente.
Eu preciso me ver naquilo que faço. Do contrário eu não me realizo. Se eu não me realizo – usando a palavra em duplo sentido -, não me torno real ou, se usar o termo em inglês to realize, não me percebo. E se eu não me percebo naquilo que faço, eu me sinto infeliz.” Cortella diz que quando o modelo de vida leva a um esgotamento, é fundamental questionar se vale a pena continuar no mesmo caminho.
Quem é você?
Quando alguém te pergunta isso, qual a sua resposta? Algo do tipo: “Sou administrador, com MBA em Marketing e atuo no ramo de calçados atualmente” (etc etc etc). Não é mesmo?
Porém, pessoalmente acredito que você é muito mais do que isso (as atividades que exerce ou os cursos que fez).
Você pode até dizer: “Não misturo vida pessoal com profissional.” Porém nesse ponto Cortella lembra que “você é uma pessoa inteira, vive uma vida com várias dimensões concomitantes”.
Não dá para você tirar o chapéu profissional e dizer “agora eu vou ser pai”. Precisamos sim fazer gestão do tempo, e, de fato, o trabalho ocupa a maior parte dele, porém isso não resume todas as suas qualidades.
Realidade e dinheiro
Ok. Essa história está muito bonita, mas vamos ao que interessa, sempre que o assunto surge a resposta imediata é: “preciso pagar minhas contas, não posso ficar por aí de bobeira”. É claro, a intenção não é radicalizar, apenas refletir sobre o assunto, que é pouco discutido.
O próprio autor ratifica a necessidade de planejar, envolver a família e se preparar muito para qualquer transição, completando com um dizer de Marx que “só é possível chegar ao reino da liberdade quando o da necessidade está absolutamente resolvido”.
Fundamental é chegar ao essencial
Essa relação trabalho e dinheiro parece ser o principal paradigma a se analisar. Cortella faz a seguinte distinção esclarecedora: emprego é fonte de renda e trabalho é fonte de vida.
Em um de seus vídeos, Cortella faz a seguinte distinção esclarecedora: emprego é fonte de renda e trabalho é fonte de vida. Otto Scharmer, em seu livro Liderar a Partir do Futuro que Emerge, chama a visão por trás desse paradigma de “o mito do dinheiro”, e completa: “organizamos a nossa economia e nosso pensamento econômico com base em uma péssima ideia: que deveríamos trabalhar por dinheiro”.
Com essa afirmação nosso mindset pode rapidamente dizer: “Mas é claro, dinheiro é essencial!” Neste ponto Cortella faz uma distinção que considero fantástica, entre o que é essencial e o que é fundamental.
Essencial é tudo aquilo que você não pode deixar de ter: felicidade, amorosidade, lealdade, amizade, sexualidade, religiosidade.
Fundamental é tudo aquilo que o ajuda a chegar ao essencial. É o que lhe permite conquistar algo.
Por exemplo, trabalho não é essencial, é fundamental. Você não trabalha para trabalhar, você trabalha porque o trabalho lhe permite atingir a amizade, a felicidade, a solidariedade. Dinheiro não é essencial, é fundamental. Sem ele, você passa dificuldade, mas ele, em si, é fundamental.
O que eu quero no meu trabalho é ter a minha obra reconhecida, me sentir importante no conjunto daquela obra.
Essa visão do conjunto da obra vem levando muitas pessoas a questionar o que, de fato, estão fazendo ali. Isso não é exclusivo para o mundo do trabalho, mas para a vida em geral.
Nós estamos substituindo paulatinamente a preocupação com os “comos” por uma grande demanda em relação aos “porquês”. (…) Durante os últimos cinquenta anos se trabalhou em busca de um lugar no mundo do fundamental: a propriedade, o consumo. Isso não satisfez a nossa necessidade de reconhecimento, de valorização.
Em um de seus vídeos, Cortella faz uma metáfora com o fato de precisar trocar uma lâmpada. O essencial nessa situação é ter luz, a lâmpada trocada, porém é fundamental ter uma escada, algo que me possibilite conquistar o essencial.
Paixão, trabalho e carreira
Um discurso interessante e motivador sobre o assunto é de Steve Jobs, na graduação da faculdade de Stanford (2005), onde diz, entre outros que:
“Você tem que encontrar aquilo que ama. Isso vale para o trabalho quanto para as pessoas. Seu trabalho preencherá grande parte de sua vida, e o único jeito de estar verdadeiramente satisfeito é fazer o que você acredita ser um excelente trabalho, e um excelente trabalho só nasce do amor pelo que se faz. Se você ainda não o encontrou, continue procurando e não se acomode. Como tudo do coração, você saberá quando encontrar e, como todo grande relacionamento, só melhora com o passar dos anos.”
E qual é a sua obra?
Este artigo juntou algumas referências para trazer à tona e sensibilizar sobre o tema do trabalho e propósito de vida.
Caso tenha se identificado e faça sentido para você, há diversas referencias, histórias, caminhos e cursos, porém são trilhas e não trilhos, cada um vai seguir conforme sua história, valores, necessidades e sonhos.
Para concluir, gostaria de convidar você a refletir e agir.
Stephen Covey, autor do livro os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes, propõe um exercício bastante interessante, o exercício do funeral, funciona da seguinte forma:
Imagine que você está em seu próprio funeral, ouvindo as pessoas queridas que conviveram contigo falando sobre quem você foi, o que vez, e o legado que deixou.
O que você gostaria que eles falassem sobre você?
Qual o legado que você deixar quando se for?
- Covey, Stephen R. (Author)
- 462 Pages - 01/01/2017 (Publication Date) - Best Seller (Publisher)
Pense sobre isso. E comece agora mesmo!
Qual é a tua obra?
Não deixe ler o livro Qual é tua Obra para aprofundar a reflexão e aprender mais.
[well] Este artigo foi idealizado e escrito por Pedro M. Grillo em parceria com André Faria. [/well]
- "Livro NOVO. Codigo: 14743"
- Cortella, Mario Sergio (Author)
- 176 Pages - 06/28/2016 (Publication Date) - Planeta (Publisher)
- Detalhes do produto Capa comum: 192 páginas Editora: Planeta; Edição: 1ª (26 de janeiro de 2018) Idioma: Português ISBN-10: 8542212347 ISBN-13: 978-8542212341 Dimensões do produto: 21 x 13,6 x 1 cm Peso de envio: 400 g
- Cortella, Mario Sergio (Author)
- 192 Pages - 01/26/2018 (Publication Date) - Planeta (Publisher)
- Cortella, Mario Sergio (Author)
- 176 Pages - 05/03/2017 (Publication Date) - Planeta (Publisher)
Uma reflexão fantástica sobre trabalho. Este artigo mostra o quanto você ama o que faz e isto é motivador.
Muito Obrigado, Ismael!
Muito Interessante, uma ótima visão sobre o “trabalho”. Entregar nosso trabalho é como contribuímos para o mundo, se não gostamos de como contribuímos não há chance de que sejamos felizes, pois no fundo saberemos que nossa contribuição é mediocre.
Agora sei o porquê da vontade de ficar mais horas no trabalho. Amo o q faço.
Que bom que estão entrando nesse tipo de discussão também… show de bola! Abs.